
São Luiz do Anauá, a menor cidade do sul de Roraima, entrou em estado de calamidade financeira em julho de 2025. Apesar de ter recebido R$ 126 milhões em emendas parlamentares nos últimos cinco anos, o município enfrenta falta de recursos para pagar salários, manter serviços e honrar contratos.
O montante equivale a R$ 17,4 mil por habitante, um volume 33 vezes maior do que a média nacional, mas não impediu o colapso. O prefeito Elias da Silva (PP), Chicão, relata ter encontrado uma prefeitura sem dinheiro e cheia de dívidas, com obras superfaturadas e projetos não executados.
Quatro obras concentram os principais indícios de desvios, totalizando R$ 12,6 milhões: o Parque da Vaquejada, onde R$ 6,6 milhões foram pagos sem qualquer avanço; a Praça dos Buritis, com apenas a base concretada apesar do pagamento integral de R$ 3 milhões; o portal da cidade, estrutura de R$ 1,8 milhão que não tem acesso; e casas populares pagas, mas não entregues.
Chicão também denunciou que R$ 680 mil foram descontados dos salários dos servidores para empréstimos consignados que não foram repassados aos bancos, prejudicando dezenas de funcionários.
As denúncias foram formalizadas junto a órgãos como CGU, TCU, Polícia Federal e Ministério Público. Apesar de Chicão ter sido vice-prefeito e secretário de Saúde durante a gestão do ex-prefeito James Batista (Solidariedade), a quem atribui o problema, o ex-prefeito não respondeu aos questionamentos.
O caso escancara uma distorção da política nacional: Roraima tem poucos municípios, mas o mesmo número de parlamentares que estados maiores, o que gera repasses volumosos para cidades pequenas.
Apesar da crise, deputados e senadores seguem liberando recursos. Em 2025, dezenas de vídeos oficiais mostram parlamentares entregando ambulâncias e máquinas ao lado do prefeito, enquanto a população convive com o caos financeiro e obras fantasmas.
Com informações de Tiago Mali/UOL