Generic selectors
Exact matches only
Search in title
Search in content
Post Type Selectors

‘Não tem nada de grave, nada de anormal… cada um constrói seu processo democrático’, diz Lula sobre eleição contestada na Venezuela

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse nesta terça-feira (30) não ver “nada de anormal” em relação à contestada reeleição de Nicolás Maduro na Venezuela.

Em entrevista a um canal afiliado à TV Globo, Lula descreveu a situação como “um processo” em curso. Mencionando uma nota publicada pelo seu partido na segunda (29), disse que o que estava ocorrendo era um conflito entre o tribunal eleitoral venezuelano e a oposição.

“Vejo a imprensa brasileira tratando como se fosse a Terceira Guerra Mundial. Não tem nada de anormal. Teve uma eleição, teve uma pessoa que disse que teve 51%, teve uma pessoa que disse que teve 40 e pouco. Um concorda, o outro não”, afirmou, acrescentando que quem deveria arbitrar a decisão é a Justiça.

O governo brasileiro já tinha se pronunciado sobre o resultado das eleições na Venezuela, alvo de questionamentos de líderes regionais. Por meio de nota, ele havia pedido a divulgação das atas eleitorais e se absteve de parabenizar Maduro.

Esta foi, porém, a primeira declaração de Lula sobre o tema. A entrevista, concedida à TV Centro América, de Mato Grosso, foi gravada fora da agenda oficial, e trechos dela foram divulgados pelo canal GloboNews à tarde. A transcrição integral do comentário foi divulgada pela Secom à noite.

Lula afirmou que Celso Amorim, assessor especial para assuntos internacionais que acompanhou o pleito em Caracas, conversou com Maduro e o candidato da oposição, Edmundo González. Segundo o petista, Amorim relatou que o ditador apresentaria a ata. “Só não disse quando, mas disse que vai apresentar”, disse o presidente.

Lula ainda minimizou as contestações ao resultado feitas pela oposição e referendadas por outros países. Ele comparou o caso com a contestação que Aécio Neves fez às eleições de 2014 após ser derrotado. Na época, o seu partido, o PSDB, pediu uma auditoria dos votos ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral). Ao analisá-los, porém, não encontrou nenhum indício de irregularidade.

“Sempre que tem um resultado apertado, as pessoas têm dúvidas. Aqui no Brasil você viu o que aconteceu. Mesmo quando Aécio perdeu para Dilma, que entrou com recurso para anular a eleição”, disse Lula.

Ainda na entrevista, o presidente disse que, se a vitória de Maduro for confirmada pelas atas de votação, tanto o seu governo quanto o de outros países seriam obrigados a reconhecer o resultado.

Ele acrescentou que Brasil, Colômbia e Chile negociam a formulação de uma declaração conjunta. As chancelarias dos três países comandados por líderes de esquerda pediram a divulgação de dados individualizados. Até a noite desta terça, o documento conjunto não tinha sido publicado.

“O presidente Maduro sabe perfeitamente bem que, quanto mais transparência houver, mais chance ele terá de ter tranquilidade para governar a Venezuela”, prosseguiu o petista.

“Eu, enquanto cidadão do planeta Terra, cidadão brasileiro, presidente, acho que é preciso acabar com a ingerência externa nos outros países”, completou. “A Venezuela tem direito de construir o seu modelo de crescimento e de desenvolvimento sem que haja um bloqueio. Cada um constrói o seu processo democrático, cada um tem o seu processo eleitoral.”

Também nesta terça, Lula participou de uma ligação telefônica com o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, para discutir a situação em Caracas.

Segundo a Casa Branca, durante a conversa, os líderes se comprometeram a permanecer em coordenação em relação à Venezuela e concordaram com a necessidade de divulgação completa, imediata, transparente e detalhada dos dados da votação por seção eleitoral pelas autoridades venezuelanas.

Também “compartilharam suas perspectivas de que o resultado da eleição venezuelana representa um momento crítico para a democracia no hemisfério”, disse Washington, acrescentando que Biden agradeceu a liderança de Lula.

Mais cedo, o Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca havia divulgado uma nota reforçando a exigência da divulgação de “resultados eleitorais completos, transparentes e detalhados, incluindo por estação de votação” pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE) da Venezuela.

“Isso é especialmente crítico, dado que há sinais claros de que os resultados eleitorais anunciados pelo Conselho Nacional Eleitoral da Venezuela não refletem a vontade do povo venezuelano, conforme foi expressa nas urnas em 28 de julho. Também estamos revisando outros dados eleitorais compartilhados por organizações da sociedade civil e os relatórios de observadores eleitorais internacionais”, completou a porta-voz Adrienne Watson.

Falando sob condição de anonimato nesta segunda, membros do governo americano disseram que a divulgação completa das atas é algo muito simples de ser feito e que a resistência do governo venezuelano de atender a esse pedido torna problemática a capacidade de a comunidade internacional avaliar o pleito.

Segundo eles, as informações obtidas pelo governo americano até agora indicam um resultado discrepante do anunciado pelo governo Maduro.

O país afirma estar usando métodos diplomáticos e se coordenando com aliados regionais, inclusive o Brasil, para garantir que o resultado das urnas na Venezuela seja respeitado. O próximo passo, diante do atual impasse, é discutir a situação em espaços internacionais como a OEA (Organização dos Estados Americanos) e o G7, disseram os oficiais americanos.

Apesar da preocupação em torno da situação na Venezuela, o governo dos EUA tem sido cauteloso com a possibilidade de novas sanções ao país. Por ora, não está sob consideração a revogação de licenças às sanções dadas a petrolíferas como a Chevron para operarem no país sul-americano.

Washington não descarta aplicar novas sanções, mas enfatiza que isso está sendo continuamente avaliado à luz dos interesses de política externa americanos mais amplos.

“É revelador que Maduro esteja rompendo relações diplomáticas com países latino-americanos que, assim como os EUA, simplesmente pediram transparência. Acho que demonstra a intolerância do regime à dissidência e a falta de compromisso com os princípios democráticos básicos que outros governos regionais não estão apenas compartilhando, mas defendendo”, afirmou nesta terça (30) o porta-voz adjunto do Departamento de Estado, Vedant Patel.

Na madrugada de segunda, o CNE afirmou que, com 80% das urnas apuradas, Maduro teria obtido 51,2% votos, enquanto González teria apoio de 44,2% —diferença que tornaria a vitória do líder irreversível, segundo o regime.

Com informações da Folha de S. Paulo

Comente o que achou:

Veja Mais
Redes Sociais
Fale conosco

comercial@partiuroraima.com.br