
Por meio de leis específicas, campanhas de conscientização e apoio logístico, a Assembleia Legislativa de Roraima (ALE-RR) reforça o compromisso com a promoção do aleitamento materno, reconhecido como prática essencial à saúde infantil e à dignidade das mães.
A mobilização estadual segue o calendário do Agosto Dourado, campanha nacional dedicada à valorização do leite materno como alimento completo, seguro e insubstituível nos primeiros anos de vida. Em Roraima, esse esforço ganhou respaldo legal com a Lei nº 1.413/2020, que instituiu o Dia Estadual do Aleitamento Materno (1º de agosto) e a Semana Estadual de Conscientização, comemorada até quinta-feira (7).
Para o presidente da ALE-RR, deputado Soldado Sampaio (Republicanos), a iniciativa destaca o aleitamento materno como “um ato de amor, cuidado e de saúde pública”. Ele defende que cabe ao Legislativo garantir políticas públicas que respeitem e facilitem a amamentação com dignidade.
“Temos um papel importante em propor, apoiar e fiscalizar medidas que beneficiem as mães e assegurem o desenvolvimento saudável das nossas crianças”, afirmou.
Leite materno: padrão ouro de qualidade
O símbolo da campanha é a cor dourada, em alusão ao “padrão ouro” de qualidade do leite materno. De acordo com o pediatra Pedro Sarmet Salomão, que atua na Maternidade de Boa Vista (Hospital Amigo da Criança – Unicef), o leite da mãe é mais que nutrição: é imunidade, vínculo emocional e proteção biológica.
“Células-tronco, anticorpos e a memória imunológica da mãe são passados diretamente ao bebê. É uma verdadeira vacinação natural e contínua”, explicou.
A recomendação da Sociedade Brasileira de Pediatria é o aleitamento materno exclusivo até os seis meses, podendo ser mantido até os dois anos ou mais. Ainda segundo o médico, mesmo bebês doentes tendem a aceitar o leite materno quando rejeitam outros alimentos — um alerta para os cuidadores e profissionais de saúde.
Banco de Leite de Roraima: assistência e solidariedade
Com funcionamento 24 horas, o Banco de Leite Humano (BLH) de Roraima, localizado na Maternidade Nossa Senhora de Nazareth, atende mães com dificuldades de amamentação e abastece UTIs neonatais com leite doado. A coordenadora, Silvia Furlin, destaca que qualquer mulher que esteja amamentando e tenha leite excedente pode doar.
O processo de coleta é simples e gratuito. Após triagem inicial via WhatsApp (95) 98444-0772, o banco fornece frascos esterilizados e realiza a coleta domiciliar. O transporte é feito pelo projeto “Amigos do Peito”, do Corpo de Bombeiros, com logística segura e eficiente.
Após a coleta, o leite passa por etapas rigorosas: pasteurização, análise laboratorial e porcionamento. Todo o leite aprovado é destinado a bebês internados, principalmente prematuros.
“Cada gota salva vidas. E a doadora recebe todo o suporte necessário, inclusive emocional, caso esteja enfrentando dificuldades na amamentação”, ressaltou Silvia.
Amigos do Peito: mil litros de leite doados no primeiro semestre de 2025
O projeto “Amigos do Peito” realiza coletas às segundas, quartas e quintas-feiras. Em junho de 2025, a equipe fez 170 coletas e arrecadou quase 80 litros de leite. No balanço de janeiro a junho, foram mil coletas e aproximadamente mil litros distribuídos às UTIs neonatais.
Segundo o tenente Daniel Hupsel, que coordena o projeto, os dados refletem o protagonismo das mulheres doadoras.
“Só conseguimos chegar a essas crianças porque mães voluntárias decidiram compartilhar o que têm de mais valioso. É um ato silencioso de generosidade que salva vidas todos os dias”, declarou.
Leis estaduais ampliam direitos e acolhimento às mães
Além da Semana de Conscientização, Roraima conta com leis que garantem condições adequadas à amamentação:
- Lei nº 1.558/2021 – Garante o direito à amamentação durante concursos públicos estaduais.
- Lei nº 2.138/2025 – Obriga instituições de ensino superior (públicas e privadas) a manterem espaços específicos para amamentação e fraldário.
- Emenda Constitucional nº 68/2019 – Estende o tempo de convivência da mãe servidora pública com o bebê até o primeiro ano de vida, com direito a intervalos especiais ou redução da jornada.
Na própria sede da Assembleia Legislativa há um espaço equipado para mães lactantes, acessível tanto às servidoras quanto ao público visitante.
Amor em cada gota
A consultora de vendas Stephanny Gomes, mãe da pequena Stella, descobriu na doação de leite uma forma de ajudar outros bebês.
“É muito gratificante saber que meu leite pode ajudar quem precisa. Cada mililitro pode ser essencial para um bebê que está lutando pela vida”, contou.
Além de doar, Stephanny vivenciou o aleitamento como uma experiência única.
“A amamentação é mais do que alimento. É acolhimento, é troca. É uma memória que fica para sempre.”